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  • Foto do escritorLetícia Ludwig Möller

Essa tal felicidade


Passados 16 anos da primeira leitura, reli “Felicidade: diálogos sobre o bem-estar na civilização”, do Eduardo Giannetti, e me surpreendi com a abertura do prólogo, pelo tanto que há de atual:


“A rotina entorpece. Vez por outra, entretanto, desabam sobre o mundo acontecimentos que sacodem e alteram o nosso sentido de prioridades: preocupações habituais murcham, possibilidades relegadas ganham viço. Novos ângulos e desafios se oferecem. O choque do inesperado subverte, ainda que por tempo limitado, a constelação dos valores que nos governam - os magos que detêm em suas mãos os fios secretos das escolhas e do enredo de nossas vidas.”


Giannetti escreve logo após o atentado de 11 de setembro de 2001. Tragédias, desastres, conflitos, pandemias desabam sobre nossas vidas sem pedir licença. Se daí algo pode advir de positivo, será talvez a aquisição individual e coletiva de uma maior clareza sobre valores, rumos e decisões. Nem sempre a humanidade foi capaz de fazer algo bom a partir do terrível, mas há momentos que atingem a todos nós e por isso abrem uma janela para mudanças de maior impacto. Democracia, não retrocesso, ética, transparência, cidadania plena, sustentabilidade, proteção da vida humana e da biosfera, são temas urgentes. Que possamos virar a mesa e obter avanços em muitas dessas questões a partir deste famigerado 2020.


Mas o livro se debruça mesmo é sobre a felicidade, tema já presente nas reflexões dos filósofos antigos e que não perde nunca sua atualidade. Não se trata aqui de um ensaio tradicional, mas de reflexões que se apresentam na forma de diálogos entre quatro amigos, ex-colegas de faculdade, o que torna a leitura fluida e prazerosa.


As principais questões debatidas pelos amigos dizem respeito à relação da felicidade com o progresso cientifico e econômico. As conquistas do progresso em termos de melhores níveis de saúde, escolarização, acesso a bens de consumo, entre outros, teriam também aumentado a sensação de felicidade? Sentimo-nos mais satisfeitos com nossas vidas? Até que ponto o processo civilizatório promoveu ou dificultou a busca pela felicidade? Estamos desconectados de valores fundamentais para uma vida que nos faça sentido, que tenha propósito?


A felicidade é mais ligada ao ter, ou ao ser e ao fazer? Ela é um estado de ânimo, transitório e efêmero? Uma percepção de "saldo positivo" diante dos altos e baixos da vida? Ou uma atividade, que se cultiva e constrói?


Esses são apenas alguns dos muitos aspectos da relação entre progresso e felicidade discutidos no livro, com riqueza de referências bibliográficas para o aprofundamento das reflexões. Uma leitura que, sem dúvida, recomendo.


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